A DEFENDER (Defesa Civil do Patrimônio Histórico) do Rio Grande do Sul, divulgou uma reportagem sobre o Projeto Sentidos Urbanos.
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domingo, 25 de outubro de 2009
Poetizando...
Romance I
ou Da revelação do ouro
Nos sertões americanos,
anda um povo desgrenhado:
gritam pássaros em fuga
sobre fugitivos riachos;
desenrolam-se os novelos
das cobras, sarapintados;
espreitam, de olhos luzentes,
os satíricos macacos.
Súbito, brilha um chão de ouro:
corre-se - é luz sobre um charco.
A zoeira dos insetos
cresce, nos vales fechados,
com o perfume das resinas
e desse mel delicado
que se acumula nas flores
em grãos de veludo e orvalho.
(Por onde é que andas, ribeiro,
descoberto por acaso?)
Grossos pés firmam-se em pedras:
sob os chapéus desabados,
o olhar galopa no abismo,
vai revolvendo o planalto;
descobre os índios desnudos,
que se escondem, timoratos;
calcula ventos e chuvas;
mede os montes, de alto a baixo;
em rios a muitas léguas
vai desmontando o cascalho;
em cada mancha de terra,
desagrega barro e quartzo.
Lá vão pelo tempo adentro
esses homens desgrenhados:
duro vestido de couro
enfrenta espinhos e galhos;
em sua cara curtida
não pousa vespa ou moscardo;
comem larvas, passarinhos,
palmitos e papagaios;
sua fome verdadeira
é de rios muito largos,
com franjas de prata e de ouro,
de esmeraldas e topázios.
(Que é feito de ti, montanha,
que a face escondes no espaço?)
E é por isso que investigam
toda a brenha, palmo a palmo;
é por isso que se entreolham
com duras pupilas de aço;
que uns aos outros se destroçam
com seus facões e machados:
companheiros e parentes
são rivais e amigos falsos.
(Que é feito de ti, caminho,
em teu segredo enrolado?)
Por isso, descem as aves
de distantes céus intactos
sobre corpos sem socorro,
pela sombra apunhalados:
por isso, nascem capelas
no mudo espanto dos matos,
onde rudes homens duros
depositam seus pecados.
Por isso, o vento que gira
assombra as onças e os veados:
que seu sopro, antigamente,
era perfume tão grato,
e, agora, é cheiro de morte,
de feridos enforcados...
(Que é feito de ti, remoto
Verbo Divino Encarnado?)
Selvas, montanhas e rios
estão transidos de pasmo.
É que avançam, terra adentro,
os homens alucinados.
Levam guampas, levam cuias,
levam flechas, levam arcos;
atolam-se em lama negra,
escorregam por penhascos,
morrem de audácia e miséria,
nesse temerário assalto,
ambiciosos e avarentos,
abomináveis e bravos,
para fortuitas riquezas,
estendendo inquietos braços,
- os olhos já sem clareza,
- os lábios secos e amargos.
(Que é feito de vós, ó sombras
que o tempo leva de rastos?)
E, atrás deles, filhos, netos,
seguindo os antepassados,
vêm deixar a sua vida,
caindo nos mesmos laços,´
perdidos na mesma sede,
teimosos, desesperados,
por minas de prata e de ouro
curtindo destino ingrato,
emaranhando seus nomes
para a glória e o desbarato,
quando, dos perigos de hoje,
outros nascerem, mais altos.
Que a sede de ouro é sem cura,
e, por ela subjugados,
os homens matam-se e morrem,
ficam mortos, mas não fartos.
(Ai, Ouro Preto, Ouro Preto,
e assim foste revelado!)
in: Romanceiro da Inconfidência
Cecília Meireles
Círculo do Livro S.A., São Paulo, 1975
ou Da revelação do ouro
Nos sertões americanos,
anda um povo desgrenhado:
gritam pássaros em fuga
sobre fugitivos riachos;
desenrolam-se os novelos
das cobras, sarapintados;
espreitam, de olhos luzentes,
os satíricos macacos.
Súbito, brilha um chão de ouro:
corre-se - é luz sobre um charco.
A zoeira dos insetos
cresce, nos vales fechados,
com o perfume das resinas
e desse mel delicado
que se acumula nas flores
em grãos de veludo e orvalho.
(Por onde é que andas, ribeiro,
descoberto por acaso?)
Grossos pés firmam-se em pedras:
sob os chapéus desabados,
o olhar galopa no abismo,
vai revolvendo o planalto;
descobre os índios desnudos,
que se escondem, timoratos;
calcula ventos e chuvas;
mede os montes, de alto a baixo;
em rios a muitas léguas
vai desmontando o cascalho;
em cada mancha de terra,
desagrega barro e quartzo.
Lá vão pelo tempo adentro
esses homens desgrenhados:
duro vestido de couro
enfrenta espinhos e galhos;
em sua cara curtida
não pousa vespa ou moscardo;
comem larvas, passarinhos,
palmitos e papagaios;
sua fome verdadeira
é de rios muito largos,
com franjas de prata e de ouro,
de esmeraldas e topázios.
(Que é feito de ti, montanha,
que a face escondes no espaço?)
E é por isso que investigam
toda a brenha, palmo a palmo;
é por isso que se entreolham
com duras pupilas de aço;
que uns aos outros se destroçam
com seus facões e machados:
companheiros e parentes
são rivais e amigos falsos.
(Que é feito de ti, caminho,
em teu segredo enrolado?)
Por isso, descem as aves
de distantes céus intactos
sobre corpos sem socorro,
pela sombra apunhalados:
por isso, nascem capelas
no mudo espanto dos matos,
onde rudes homens duros
depositam seus pecados.
Por isso, o vento que gira
assombra as onças e os veados:
que seu sopro, antigamente,
era perfume tão grato,
e, agora, é cheiro de morte,
de feridos enforcados...
(Que é feito de ti, remoto
Verbo Divino Encarnado?)
Selvas, montanhas e rios
estão transidos de pasmo.
É que avançam, terra adentro,
os homens alucinados.
Levam guampas, levam cuias,
levam flechas, levam arcos;
atolam-se em lama negra,
escorregam por penhascos,
morrem de audácia e miséria,
nesse temerário assalto,
ambiciosos e avarentos,
abomináveis e bravos,
para fortuitas riquezas,
estendendo inquietos braços,
- os olhos já sem clareza,
- os lábios secos e amargos.
(Que é feito de vós, ó sombras
que o tempo leva de rastos?)
E, atrás deles, filhos, netos,
seguindo os antepassados,
vêm deixar a sua vida,
caindo nos mesmos laços,´
perdidos na mesma sede,
teimosos, desesperados,
por minas de prata e de ouro
curtindo destino ingrato,
emaranhando seus nomes
para a glória e o desbarato,
quando, dos perigos de hoje,
outros nascerem, mais altos.
Que a sede de ouro é sem cura,
e, por ela subjugados,
os homens matam-se e morrem,
ficam mortos, mas não fartos.
(Ai, Ouro Preto, Ouro Preto,
e assim foste revelado!)
in: Romanceiro da Inconfidência
Cecília Meireles
Círculo do Livro S.A., São Paulo, 1975
Revista Museu divulga reportagem sobre o Projeto Sentidos Urbanos
A Revista online, "Museu" divulgou uma reportagem sobre o "Projeto Sentidos Urbanos: Patrimônio e Cidadania". A revista é um portal que mostra os bastidores dos museus, a criatividade dos profissionais da área e seus projetos inovadores, divulgando a cultura no Brasil e no mundo.
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segunda-feira, 12 de outubro de 2009
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Poetizando ...
Ouro Preto
é um imenso vale
profundamente mineiral
suas ruas
num sobe e desce
num vira e dobra
são labirintos soturnos
envolvendo corpos
e as pedrinhas
que fazem ladeiras
fachicam indignadas
feito comadres
suas casas nos espiam
(austeras)
com um pudor
estritamente mineiro
em cada esquina
em cada largo
em cada morro
uma igreja nos vigia
(puritana)
rezando salmos
anjos pacientes entornam
água
nos chafarizes
petrificados
à noite
(indefinida)
quando o frio é faca ferindo faces
as casas se encostam umas às outras
e se aquecem seculares
paternal
como a mão mineira
ouro preto persiste
eternamente acolhedor.
Beré Lucas
in: Cardoso Filho, Jusberto (org.) Antologia Poética de Ouro Preto. Ouro Preto: Ed. Autor, 1995. p. 130-131.
é um imenso vale
profundamente mineiral
suas ruas
num sobe e desce
num vira e dobra
são labirintos soturnos
envolvendo corpos
e as pedrinhas
que fazem ladeiras
fachicam indignadas
feito comadres
suas casas nos espiam
(austeras)
com um pudor
estritamente mineiro
em cada esquina
em cada largo
em cada morro
uma igreja nos vigia
(puritana)
rezando salmos
anjos pacientes entornam
água
nos chafarizes
petrificados
à noite
(indefinida)
quando o frio é faca ferindo faces
as casas se encostam umas às outras
e se aquecem seculares
paternal
como a mão mineira
ouro preto persiste
eternamente acolhedor.
Beré Lucas
in: Cardoso Filho, Jusberto (org.) Antologia Poética de Ouro Preto. Ouro Preto: Ed. Autor, 1995. p. 130-131.
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